por Robert Kiyosaki
Tive dois pais, um rico e outro pobre. Um era muito instruído e inteligente; tinha o Ph.D. e fizera um curso universitário de graduação, com duração de quatro anos, em menos de dois. Foi então para a Universidade de Stanford, para a Universidade de Chicago e para a Northwestern University, sempre com bolsa de estudos. O outro pai nunca concluiu o segundo grau.
Ambos foram homens bem-sucedidos em suas carreiras e trabalharam arduamente durante toda a vida. Ambos auferiam rendas consideráveis.
Contudo, um sempre enfrentou dificuldades financeiras. O outro se tornou o homem mais rico do Havaí. Um morreu deixando milhões de dólares para sua família, para instituições de caridade e para sua igreja. O outro deixou contas a pagar.
Ambos eram homens fortes, carismáticos e influentes. Ambos me ofereceram conselhos, mas não aconselharam as mesmas coisas. Ambos acreditavam firmemente na instrução, mas não sugeriram os mesmos estudos.
Se eu tivesse tido um único pai, teria tido que aceitar ou rejeitar seus conselhos. Tendo dois, tive a escolha entre pontos de vista contrastantes; a visão de um homem rico e a visão de um homem pobre. Em vez de aceitar ou rejeitar simplesmente um desses pontos de vista, me descobri pensando mais, comparando-os e escolhendo por mim mesmo.
O problema é que o homem rico ainda não era rico e o homem pobre ainda não era pobre. Ambos estavam no início de suas carreiras e lutavam por dinheiro e família. Mas eles tinham idéias muito diferentes sobre o dinheiro.
Por exemplo, um dos pais dizia: "O amor ao dinheiro é a raiz de todo mal." O outro: "A falta de dinheiro é a raiz de todo mal."
Quando garoto, a influência de dois pais, ambos homens fortes, era uma situação complicada. Eu queria ser um bom filho e ouvia, mas os dois pais não falavam a mesma língua. O contraste entre suas idéias, especialmente no que se referia ao dinheiro, era tão extremo que eu ficava curioso e intrigado.
Comecei a pensar profundamente sobre o que cada um deles dizia.
Muito do meu tempo era gasto refletindo, fazendo-me perguntas como "Por que ele fala isso?", a respeito das afirmações dos pais. Teria sido muito mais simples falar "Sim, ele está certo. Concordo com isso". Ou simplesmente rejeitar o ponto de vista dizendo "O velho não sabe do que está falando".
Porém, tendo dois pais que eu amava, fui forçado a pensar e a escolher um dos caminhos por mim mesmo. Esse processo de escolher por mim mesmo se mostrou muito valioso no longo prazo, não se tratou simplesmente da aceitação ou da rejeição de um único ponto de vista.
Uma das razões pelas quais os ricos ficam mais ricos, os pobres, mais pobres e a classe média luta com as dívidas é que o assunto dinheiro não é ensinado nem em casa nem na escola. Muitos de nós aprendemos sobre o dinheiro com nossos pais. O que pode dizer um pai pobre a respeito do dinheiro para seu filho? Ele diz simplesmente: "Fique na escola e estude muito." O filho pode se formar com ótimas notas; mas com uma programação financeira e uma mentalidade de pessoa pobre. Isso foi aprendido pelo filho em sua tenra idade.
O dinheiro não é ensinado nas escolas. As escolas se concentram nas habilidades acadêmicas e profissionais mas não nas habilidades financeiras.
Isso explica por que médicos, gerentes de banco e contadores inteligentes que tiveram ótimas notas quando estudantes terão problemas financeiros durante toda sua vida. Nossa impressionante dívida nacional se deve em boa medida a políticos e funcionários públicos muito instruídos que tomam decisões financeiras com pouco ou nenhum treinamento na área do dinheiro.
Muitas vezes penso no novo milênio e imagino o que acontecerá quando houver milhões de pessoas precisando de assistência financeira e médica. Eles se tornarão dependentes do apoio financeiro de suas famílias ou do governo. O que acontecerá quando o Medicare e a Seguridade Social ficarem sem dinheiro? Como uma nação sobreviverá se ensinar sobre dinheiro continuar sendo tarefa dos pais - cuja maioria será ou já é pobre?
Como tive dois pais a me influenciar, aprendi com ambos. Tive que refletir sobre os conselhos de cada um deles e ao fazê-lo percebi o poder e o impacto dos nossos pensamentos sobre nossa própria vida. Por exemplo, um pai costumava falar "Não dá para comprar isso". O outro proibia o uso dessas palavras. Insistia em que eu falasse: "O que posso fazer para comprar isso?"
Num caso temos uma afirmação, no outro uma pergunta. Um deixa você sem alternativa, o outro obriga você a refletir. Meu pai-que-logo-ficaria-rico explicava que ao falar automaticamente "Não dá para comprar isso" seu cérebro pára de trabalhar. Ao perguntar "O que posso fazer para comprar isso?", você põe seu cérebro trabalhando. Ele não estava dizendo que comprasse tudo o que desejasse. Ele incentivava fanaticamente que exercitasse minha mente, o computador mais poderoso do mundo. "Meu cérebro fica mais forte a cada dia porque eu o exercito. Quanto mais forte fica, mais dinheiro ganho." Ele acreditava que repetir mecanicamente "Não dá para comprar isso" era um sinal de preguiça mental.
Embora ambos os pais trabalhassem com afinco, observei que um deles tinha o hábito de pôr seu cérebro a dormir quando o assunto era dinheiro e o outro tinha o costume de exercitar seu cérebro. O resultado era que, ao longo do tempo, um dos pais ficava mais forte financeiramente, e o outro enfraquecia.
Isso não é muito diferente do que ocorre quando uma pessoa faz exercícios físicos regulares enquanto a outra senta no sofá e fica assistindo à televisão. O exercício físico adequado aumenta suas chances de ter boa saúde, e o exercício mental adequado aumenta suas chances de ficar rico. A preguiça reduz tanto a saúde quanto a riqueza.
Meus dois pais tinham atitudes mentais diferentes. Um acreditava que os ricos deviam pagar mais impostos para atender os menos afortunados. O outro dizia:
"Os impostos punem os que produzem e recompensam os que não produzem."
Um dos pais recomendava: "Estude arduamente para poder trabalhar em uma boa empresa." O outro falava: "Estude arduamente para poder comprar uma boa empresa."
Um dos pais dizia: "Não sou rico porque tenho filhos." O outro: "Tenho que ser rico por causa de vocês, meus filhos."
Um incentivava as conversas sobre dinheiro e negócios na hora do jantar. O outro proibia que se falasse do assunto durante as refeições.
Um dizia: "Em questões de dinheiro seja cuidadoso, não se arrisque." O outro:
"Aprenda a administrar o risco."
Um recomendava: "Nossa casa é nosso maior investimento e nosso maior patrimônio." O outro: "Minha casa é uma dívida e se sua casa for seu maior investimento, você terá problemas."
Ambos os pais pagavam suas contas no prazo, mas um deles pagava suas contas em primeiro lugar enquanto o outro as deixava para a última hora.
Um deles acreditava que a empresa ou o governo deveria cuidar de você e de suas necessidades. Estava sempre preocupado com aumentos salariais, planos de aposentadoria, benefícios médicos, licenças de saúde, férias e outros benefícios. Ele ficava impressionado com dois de seus tios que foram para o exército e se aposentaram com vários benefícios após vinte anos de serviço ativo. Ele adorava a idéia de assistência médica e serviços de reembolso de alimentos que os militares ofereciam a seus aposentados. Ele também se empolgava com as cátedras vitalícias do sistema universitário. A idéia de estabilidade no emprego e benefícios trabalhistas lhe parecia às vezes mais importante do que o próprio emprego. Dizia freqüentemente: "Trabalhei muito para o governo, mereço essas mordomias."
O outro pai acreditava na total auto-suficiência financeira. Ele sempre se manifestava contra a mentalidade dos "direitos" e falava que isso estava criando pessoas fracas e financeiramente necessitadas. Ele dava muita ênfase à competência financeira.
Um dos pais lutava para poupar alguns poucos dólares. O outro simplesmente criava investimentos.
Um pai me ensinou a escrever um currículo impressionante para que eu pudesse encontrar um bom emprego. O outro me ensinou a fazer sólidos planos financeiros e de negócios de modo que eu pudesse criar empregos.
Ter dois pais fortes me proporcionou o luxo de observar o impacto de diferentes formas de pensar sobre a própria vida. Observei que as pessoas moldam suas vidas por meio de seus pensamentos.
Por exemplo, meu pai pobre sempre me dizia: "Nunca vou ficar rico." E isso acabou acontecendo. Meu pai rico, por outro lado, sempre se referia a si próprio como sendo rico. Ele dizia coisas como: "Sou um homem rico e pessoas ricas não fazem isto." Mesmo que estivesse totalmente quebrado após um revés financeiro, ele continuava a se considerar um homem rico. Ele se justificava dizendo: "Há uma diferença entre ser pobre e estar quebrado. Estar quebrado é algo temporário, ser pobre é algo eterno."
Meu pai pobre dizia, "Não ligo para dinheiro" ou "O dinheiro não é importante." Meu pai rico sempre dizia, "Dinheiro é poder".
O poder de nossos pensamentos nunca poderá ser medido ou avaliado, mas desde jovem se tornou óbvio para mim a tomada de consciência de meus pensamentos e da forma como me expressava. Observei que meu pai pobre não era pobre por causa do dinheiro que ganhava, que era bastante, mas por causa de seus pensamentos e ações. Quando garoto, tendo dois pais, me tornei consciente de que deveria ser cuidadoso com os pensamentos que decidisse adotar como meus. A quem ouviria - a meu pai rico ou a meu pai pobre?
Embora ambos tivessem um enorme respeito pela educação e pelo aprendizado, eles discordavam quanto ao que era importante aprender. Um queria que eu estudasse arduamente, me formasse e conseguisse um bom emprego para trabalhar pelo dinheiro. Ele queria que eu estudasse para me tornar um profissional, um advogado ou um contador, ou que fosse a uma escola de negócios para obter um MBA. O outro me incentivava a estudar para ficar rico, para entender como funciona o dinheiro e para aprender como fazê-lo trabalhar para mim. "Não trabalho por dinheiro", costumava repetir uma e outra vez. "O dinheiro trabalha para mim”.Com nove anos de idade resolvi ouvir e aprender com meu pai rico tudo sobre dinheiro. Optei por não dar ouvidos a meu pai pobre, mesmo que fosse ele quem possuísse todos os títulos universitários.
Uma lição de Robert Frost
Robert Frost é meu poeta favorito. Embora goste de muitas de suas poesias, a
minha preferida é The Road Not Taken. Quase todos os dias recorro a suas
lições:
The road not taken
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads onto way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence;
Two roads diverged in a wood, and I
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
ROBERT FROST, 1916
O caminho não escolhido
Num bosque amarelo dois caminhos se separavam, / E lamentando não poder seguir os dois / E sendo apenas um viajante, fiquei muito tempo parado / E olhei para um deles tão distante quanto pude / Até que se perdia na mata; /
Então segui o outro, como sendo mais merecedor, / E vendo talvez melhor direito, / Porque coberto de mato e querendo uso / Embora os que por lá passaram / Os tenham realmente percorrido de igual forma, / E ambos ficaram essa manhã / Com folhas que passo nenhum pisou. / Oh, guardei o primeiro para outro dia! / Embora sabendo como um caminho leva para longe, /
Duvidasse que algum dia voltasse novamente. / Direi isto suspirando / Em algum lugar, daqui a muito e muito tempo: / Dois caminhos se separaram em um bosque e eu... / Eu escolhi o menos percorrido / E isso fez toda a diferença.
/ Robert Frost, 1916
E isso fez toda a diferença.
No correr dos anos pensei muitas vezes no poema de Robert Frost. Ao escolher não dar atenção aos conselhos e atitudes quanto a dinheiro de meu pai muito instruído, tomei uma decisão dolorosa, mas foi uma decisão que determinou o resto de minha vida.
Com a decisão de quanto a quem dar ouvidos, teve início minha educação sobre dinheiro. Meu pai rico me deu lições ao longo de um período de trinta anos, até que cheguei aos 39 anos de idade. Suas lições pararam quando ele percebeu que eu conhecia e entendia plenamente o que ele estava tentando martelar na minha cabeça, às vezes, bastante dura.
O dinheiro é uma forma de poder. Mais poderosa ainda, entretanto, é a instrução financeira. O dinheiro vem e vai, mas se você tiver sido educado quanto ao funcionamento do dinheiro, você adquire poder sobre ele e pode começar a construir riqueza. O motivo pelo qual o simples pensamento positivo não funciona é porque a maioria das pessoas foi à escola e nunca aprendeu como o dinheiro funciona, e assim passam suas vidas trabalhando pelo dinheiro.
Como comecei com apenas nove anos, as lições que meu pai rico me ensinou foram simples. E quando tudo foi dito e tudo foi feito, encontramos apenas seis lições, repetidas ao longo de trinta anos. Este livro trata dessas seis lições, expostas da maneira mais simples possível, da forma como meu pai rico as passou para mim. Estas lições não pretendem ser respostas e sim marcos.
Marcos que o ajudarão, a você e a seus filhos, a se tornar mais rico, não importa o que aconteça em um mundo de crescente mudança e incerteza.
Lição l: Os ricos não trabalham pelo dinheiro
Lição 2: Para que alfabetização financeira?
Lição 3: Cuide de seus negócios
Lição 4: A história dos impostos e o poder da sociedade anônima
Lição 5: Os ricos inventam dinheiro
Lição 6: Trabalhe para aprender - não trabalhe pelo dinheiro
CAPÍTULO DOIS
Lição l: Os ricos não trabalham pelo dinheiro
- Pai, como é que a gente fica rico?
Meu pai largou o jornal.
- Por que você quer ficar rico, filho?
- Porque a mãe do Jimmy chegou hoje num Cadela novo e eles iam passar o fim de semana na praia. Ele chamou três amiguinhos, mas o Mike e eu não fomos convidados. Eles disseram que não chamavam a gente porque éramos
"garotos pobres".
- Falaram isso mesmo? - perguntou meu pai, incrédulo.
- Falaram mesmo - respondi magoado.
Meu pai balançou a cabeça em silêncio, ajeitou os óculos e voltou para a leitura do jornal. Fiquei esperando a resposta.
Era o ano de 1956. Eu tinha nove anos. Por algum golpe de sorte, eu freqüentava a mesma escola pública onde estudavam os filhos dos ricos. A cidade vivia especialmente em função das usinas de açúcar. Os gerentes das usinas e outras pessoas influentes da cidade, como médicos, proprietários de estabelecimentos comerciais e gerentes de bancos, matriculavam seus filhos nessa escola. Terminado o primeiro grau, estes iam em geral para colégios particulares. Eu fazia parte desta escola porque minha família morava num lado da rua. Se morasse do outro lado, eu teria ido para uma escola diferente e meus colegas seriam de famílias mais parecidas com a minha. Concluído o primeiro grau, estes garotos e eu faríamos o segundo grau também em escolas públicas. Não havia colégios particulares para eles ou para mim.
Meu pai finalmente largou o jornal. Senti que estava pensando.
- Filho - começou lentamente. - Se você quiser ficar rico, você tem que aprender a ganhar dinheiro.
- E como ganho dinheiro? - perguntei.
- Use sua cabeça, filho - respondeu sorrindo. O que na verdade queria dizer:
"Isso é tudo o que vou lhe dizer" ou "Não sei a resposta, de modo que não me perturbe".
Forma-se uma parceria
Na manhã seguinte, contei para meu melhor amigo, Mike, o que meu pai tinha falado. Tenho a impressão de que Mike e eu éramos os únicos garotos pobres da escola. Também Mike estava nessa escola por um golpe de sorte. Alguém tinha traçado aleatoriamente a linha divisória dos distritos escolares e nós acabamos na escola dos garotos ricos. Não éramos pobres de verdade, mas sentíamos como se fôssemos porque os demais garotos tinham luvas de beisebol novas, bicicletas novas, tudo novo.
Mãe e pai nos davam o básico, comida, teto, roupa. Mas isso era tudo. Meu pai costumava falar: "Se você quiser alguma coisa, trabalhe para obtê-la."
Queríamos muitas coisas, mas não havia muito trabalho disponível para garotos de nove anos.
- E então como ganhamos dinheiro? - perguntou Mike.
- Não sei - respondi. - Mas você quer ser meu sócio?
Ele concordou e, naquele sábado de manhã, Mike se tornou meu primeiro sócio nos negócios. Gastamos toda a manhã imaginando formas de ganhar dinheiro. De vez em quando falávamos dos "caras legais" que estavam se divertindo na casa de praia de Jimmy. Sentíamos uma certa mágoa, mas era uma mágoa boa, pois nos inspirou a ficar pensando em como ganhar dinheiro.
Finalmente, nessa tarde, um lampejo surgiu em nossas mentes. Era uma idéia que Mike havia tirado de um livro de ciências que lera. Empolgados, demos um aperto de mão e a sociedade agora tinha um objetivo.
Durante as semanas seguintes, Mike e eu percorremos a vizinhança pedindo aos vizinhos que guardassem para nós os tubos vazios de pasta de dentes.
Intrigados, muitos adultos concordavam sorrindo. Alguns perguntavam o que estávamos fazendo. Respondíamos: "Não dá para contar, é um segredo de negócios”.Conforme as semanas passavam, mamãe ficava nervosa. Tínhamos escolhido um lugar perto da máquina de lavar roupas para estocar nossa matéria-prima.
Numa caixa de papelão, que contivera vidros de molho de tomate, acumulava-se nossa pilha de tubos de pasta de dentes usados.
Finalmente, mamãe deu uma bronca. Não agüentava mais ver aquele monte de tubos espremidos na maior confusão.
- O que vocês estão fazendo, garotos? - perguntou. - E não me venham novamente com a desculpa de que é um segredo de negócios. Dêem um jeito nesta bagunça ou jogo tudo fora.
Mike e eu argumentamos, explicamos que em breve teríamos o suficiente para começar a produção. Dissemos que estávamos esperando que alguns vizinhos acabassem de usar suas pastas para que pudéssemos recolher os tubos. Mamãe nos deu uma semana de prazo.
Antecipamos a data do início da produção. A pressão aumentava. Minha primeira sociedade já estava sendo ameaçada por uma notificação de despejo do nosso armazém, feita por minha própria mãe. Mike se encarregou de apressar o consumo das pastas, informando que os dentistas recomendavam escovação mais freqüente dos dentes. Comecei a instalar a linha de produção.
Um dia meu pai chegou em casa com um amigo para mostrar como "os garotos" operavam a linha de produção a todo vapor, perto da garagem. Por todo o lugar havia uma fina poeira branca. Numa mesa comprida se alinhavam embalagens de leite trazidas da escola e no forno japonês da família as brasas do carvão brilhavam gerando o máximo de calor.
Papai caminhava com cuidado, o carro fora estacionado próximo ao portão da rua porque a linha de produção estava na frente da porta da garagem. Quando ele e seu amigo se aproximaram, viram uma vasilha de aço em cima das brasas, e dentro dela os tubos de pasta de dentes derretiam. Naquela época não havia tubos de pasta de dentes de plástico, eles eram de chumbo. Por isso, depois que a pintura queimava, os tubos dentro da vasilha derretiam até ficarem líquidos. Com a ajuda do pegador de panela da mamãe, nós despejávamos o chumbo derretido através de um pequeno furo nas embalagens de leite, que estavam recheadas de gesso.
O pó branco do gesso que ainda não fora misturado à água estava por toda parte. Com a pressa tínhamos derrubado o saco de gesso e parecia que toda a área fora atingida por uma nevasca. As embalagens de leite vazias serviam para fazer moldes de gesso. Meu pai e seu amigo nos observavam enquanto vertíamos o chumbo derretido num pequeno buraco no topo de um cubo de gesso.
- Cuidado - disse meu pai.
Fiz que sim com a cabeça, sem olhar para cima.
Quando terminei de colocar o chumbo derretido, larguei a vasilha e sorri para meu pai.
- O que vocês estão fazendo? - perguntou com um sorriso cauteloso.
- Estamos fazendo o que você me mandou fazer. Estamos nos tornando ricos - respondi.
- Somos sócios - disse Mike sorrindo e balançando a cabeça.
- E o que há nesses moldes de gesso? - perguntou papai.
- Veja - falei. - Esta vai ser uma boa fornada.
Com um pequeno martelo, bati no selo que dividia o cubo em dois. Com cuidado, puxei a parte de cima do molde de gesso e uma moedinha de chumbo caiu.
- Minha nossa! - falou papai. - Vocês estão cunhando moedinhas de chumbo!
- Certo - falou Mike. - Estamos fazendo o que o senhor disse. Estamos fazendo* dinheiro.
O amigo de meu pai se virou e caiu na gargalhada. Meu pai sorriu e balançou a cabeça. À sua frente estavam, além do fogo e da caixa de tubos de pasta de dentes vazios, dois garotos cobertos por uma poeira branca rindo de orelha a orelha.
Meu pai pediu que largássemos tudo e nos sentássemos com ele no degrau da frente de casa. Sorrindo nos explicou carinhosamente o que significava a palavra "falsificação".
Nossos sonhos estavam desfeitos.
- Você quer dizer que isto é ilegal? - perguntou Mike com um soluço na voz.
- Deixe eles - disse o amigo do meu pai. - Eles podem estar desenvolvendo um talento natural.
Meu pai olhou para ele, furioso.
- Sim, é ilegal - falou papai calmamente. - Mas vocês demonstraram muita criatividade e idéias originais. Continuem, estou orgulhoso de vocês!
Desapontados, Mike e eu ficamos sentados uns vinte minutos antes de começarmos a arrumar a bagunça. O negócio fora encerrado no próprio dia da inauguração. Varrendo a poeira, olhei para Mike e falei:
- Acho que Jimmy e os amigos dele estavam certos. Somos pobres. Quando falei isso meu pai já estava saindo.
- Garotos - falou -, vocês só serão pobres se desistirem. O mais importante é que fizeram alguma coisa. Muitas pessoas falam e sonham em ficar ricas.
Vocês fizeram alguma coisa. Estou muito orgulhoso de vocês. Repito.
Continuem. Não desistam.
Mike e eu ficamos quietos, calados. Eram palavras simpáticas, mas nós ainda não sabíamos o que fazer.
- Então por que você não é rico, papai? - perguntei.
- Porque resolvi ser professor. Os professores não estão muito preocupados em ficar ricos. Nós gostamos de ensinar. Gostaria de poder ajudar vocês, mas na verdade não sei como ganhar dinheiro.
Em inglês usa-se a mesma expressão para significar fazer e ganhar dinheiro,
make money. (N. T.)
Mike e eu voltamos à arrumação.
- E - falou meu pai -, se vocês querem aprender como enriquecer, não perguntem para mim. Falem com seu pai, Mike.
- Meu pai? - perguntou Mike surpreso.
- Sim, seu pai - repetiu papai com um sorriso. - Seu pai e eu temos conta no mesmo banco e o gerente está encantado com seu pai. Ele me disse várias vezes que seu pai é brilhante quando se trata de ganhar dinheiro.
- Meu pai? - repetiu Mike, incrédulo. - Então por que não temos uma casa bonita, um carrão como os garotos ricos da escola?
- Um carrão e uma casa bonita não querem necessariamente dizer que você é rico ou que tem muito dinheiro - respondeu papai. - O pai do Jimmy trabalha na usina. Ele não é muito diferente de mim. Ele trabalha para uma empresa e eu trabalho para o governo. A empresa compra o carro para ele. Se a usina tiver problemas financeiros, o pai do Jimmy pode acabar sem nada. Seu pai é diferente, Mike. Ele parece estar construindo um império e desconfio que em alguns anos ele será um homem muito rico.
Ao ouvir isso, Mike e eu nos empolgamos novamente. Mais dispostos, limpamos a confusão provocada por nosso defunto negócio. Enquanto limpávamos, fazíamos planos sobre quando e onde falar com o pai de Mike. O problema é que o pai de Mike trabalhava muito e, às vezes, chegava muito tarde em casa. Ele era dono de armazéns, de uma empresa de construção, de uma cadeia de lojas e de três restaurantes. Eram os restaurantes que o faziam voltar para casa tarde. Acabada a limpeza, Mike se despediu. Ele iria falar com seu pai à noite e perguntar se este queria nos ensinar a ficar ricos. Mike prometeu me ligar assim que tivesse uma resposta, mesmo que fosse tarde.
Às 20:30 tocou o telefone.
- OK - falei. - Sábado que vem - e desliguei. O pai de Mike concordara em conversar conosco.
Às 7:30 de sábado, peguei o ônibus para o lado pobre da cidade.
Começam as lições
"Vou pagar a vocês 10 centavos por hora".
Mesmo pêlos padrões de remuneração vigentes em 1956, era pouco. Michael e eu encontramos seu pai às 8:00 daquela manhã. Ele estava ocupado e trabalhando há mais de uma hora. Seu supervisor de construções Já estava saindo na caminhonete quando entrei naquele lar simples, pequeno, arrumado.
Mike me esperava na porta.
- Papai está no telefone, e ele falou para esperar na varanda dos fundos - disse
Mike ao abrir a porta.
O antigo assoalho de madeira chiou quando passei pela soleira da velha casa.
Do lado de fora havia um capacho simples escondendo os muitos anos de uso e os incontáveis passos que suportara. Apesar de limpo, precisava ser substituído.
Quando entrei na sala estreita senti claustrofobia. O cômodo estava mobiliado com móveis que hoje seriam objeto de colecionadores. Duas mulheres estavam sentadas no sofá, eram um pouco mais velhas do que a minha mãe. Em frente às mulheres estava um homem em trajes de trabalhador. Ele vestia calça e camisa caquis, bem passados, mas não engomados, e calçava botas de trabalho bem engraxadas. Deveria ser uns dez anos mais velho que papai; diria que tinha uns 45 anos. Eles sorriram quando Mike e eu passamos em direção à cozinha, de onde se saía para um pátio nos fundos. Timidamente devolvi o sorriso.
- Quem são eles? - perguntei.
- Ah, eles trabalham para papai. O mais velho dirige seus armazéns e as mulheres são gerentes dos restaurantes. E você já viu o supervisor das construções, que está trabalhando em um projeto rodoviário, a uns 80 quilômetros daqui. O outro supervisor, que cuida da construção das casas, saiu antes de você chegar.
- Isso acontece o tempo todo? - perguntei.
- Nem sempre, mas muitas vezes - disse Mike sorrindo enquanto puxava uma cadeira para sentar perto de mim.
- Perguntei ao papai se ele vai nos ensinar a ganhar dinheiro - disse Mike.
- E o que ele respondeu? - perguntei com cautelosa curiosidade.
- Bom primeiro me encarou com uma expressão engraçada, e então falou que iria nos fazer uma oferta.
- Oh - respondi balançado a cadeira para trás em direção à parede; a cadeira em que sentava se sustentava nos pés de trás. Mike fazia o mesmo.
- Você sabe o que ele vai nos oferecer? - perguntei.
- Não, mas a gente já vai descobrir.
De repente o pai de Mike passou pela porta de tela e pisou no alpendre. Mike e eu pulamos, ficando em pé não por respeito mas pelo susto que levamos.
- Prontos garotos? - perguntou o pai de Mike, puxando uma cadeira para sentar perto de nós.
Fizemos que sim com a cabeça e aproximamos as cadeiras. Ele era um homem grande, com cerca de 1,80 metro e 100 quilos. Meu pai era mais alto, pesava mais ou menos o mesmo e era cinco anos mais velho que o pai de Mike. Eles eram de certo modo parecidos, embora de origens étnicas diferentes. Talvez tivessem energias semelhantes.
- Mike falou que você quer aprender a ganhar dinheiro? E isso mesmo,
Robert?
Rapidamente assenti com a cabeça, não sem uma pequena sensação de intimidação. Senti muito poder por trás de suas palavras e de seu sorriso.
- Muito bem, eis a minha oferta. Vou ensinar a vocês, mas não como em uma sala de aula. Vocês trabalham para mim, eu ensino a vocês. Vocês não trabalham para mim, eu não ensino a vocês. Posso ensinar mais rápido se trabalharem, e não fico perdendo tempo se só ficarem sentados escutando, como fazem na escola. Esta é minha oferta. E pegar ou largar.
- Posso fazer uma pergunta... antes? - falei.
- Não. É pegar ou largar. Tenho trabalho demais para perder tempo. De qualquer modo, se você não puder se decidir logo, não vai aprender nunca a ganhar dinheiro. As oportunidades vêm e vão. Ser capaz de tomar decisões rápidas é uma habilidade importante. Você tem uma oportunidade que pediu.
As aulas começam em dez segundos - respondeu o pai de Mike com um sorriso incentivador.
- Topo - respondi.
- Topo - respondeu Mike.
- Bom - falou o pai de Mike -, a senhora Martin vai chegar daqui a dez minutos. Depois que eu conversar com ela, vocês a acompanham até minha lojinha e já podem começar. Vou lhes pagar 10 centavos por hora e vocês terão que trabalhar três horas todo sábado.
- Mas hoje tenho jogo de beisebol - falei.
O pai de Mike abaixou a voz e falou com seriedade.
- E pegar ou largar - disse.
- Topo - respondi, decidindo trabalhar em lugar de jogar beisebol.
Tive dois pais, um rico e outro pobre. Um era muito instruído e inteligente; tinha o Ph.D. e fizera um curso universitário de graduação, com duração de quatro anos, em menos de dois. Foi então para a Universidade de Stanford, para a Universidade de Chicago e para a Northwestern University, sempre com bolsa de estudos. O outro pai nunca concluiu o segundo grau.
Ambos foram homens bem-sucedidos em suas carreiras e trabalharam arduamente durante toda a vida. Ambos auferiam rendas consideráveis.
Contudo, um sempre enfrentou dificuldades financeiras. O outro se tornou o homem mais rico do Havaí. Um morreu deixando milhões de dólares para sua família, para instituições de caridade e para sua igreja. O outro deixou contas a pagar.
Ambos eram homens fortes, carismáticos e influentes. Ambos me ofereceram conselhos, mas não aconselharam as mesmas coisas. Ambos acreditavam firmemente na instrução, mas não sugeriram os mesmos estudos.
Se eu tivesse tido um único pai, teria tido que aceitar ou rejeitar seus conselhos. Tendo dois, tive a escolha entre pontos de vista contrastantes; a visão de um homem rico e a visão de um homem pobre. Em vez de aceitar ou rejeitar simplesmente um desses pontos de vista, me descobri pensando mais, comparando-os e escolhendo por mim mesmo.
O problema é que o homem rico ainda não era rico e o homem pobre ainda não era pobre. Ambos estavam no início de suas carreiras e lutavam por dinheiro e família. Mas eles tinham idéias muito diferentes sobre o dinheiro.
Por exemplo, um dos pais dizia: "O amor ao dinheiro é a raiz de todo mal." O outro: "A falta de dinheiro é a raiz de todo mal."
Quando garoto, a influência de dois pais, ambos homens fortes, era uma situação complicada. Eu queria ser um bom filho e ouvia, mas os dois pais não falavam a mesma língua. O contraste entre suas idéias, especialmente no que se referia ao dinheiro, era tão extremo que eu ficava curioso e intrigado.
Comecei a pensar profundamente sobre o que cada um deles dizia.
Muito do meu tempo era gasto refletindo, fazendo-me perguntas como "Por que ele fala isso?", a respeito das afirmações dos pais. Teria sido muito mais simples falar "Sim, ele está certo. Concordo com isso". Ou simplesmente rejeitar o ponto de vista dizendo "O velho não sabe do que está falando".
Porém, tendo dois pais que eu amava, fui forçado a pensar e a escolher um dos caminhos por mim mesmo. Esse processo de escolher por mim mesmo se mostrou muito valioso no longo prazo, não se tratou simplesmente da aceitação ou da rejeição de um único ponto de vista.
Uma das razões pelas quais os ricos ficam mais ricos, os pobres, mais pobres e a classe média luta com as dívidas é que o assunto dinheiro não é ensinado nem em casa nem na escola. Muitos de nós aprendemos sobre o dinheiro com nossos pais. O que pode dizer um pai pobre a respeito do dinheiro para seu filho? Ele diz simplesmente: "Fique na escola e estude muito." O filho pode se formar com ótimas notas; mas com uma programação financeira e uma mentalidade de pessoa pobre. Isso foi aprendido pelo filho em sua tenra idade.
O dinheiro não é ensinado nas escolas. As escolas se concentram nas habilidades acadêmicas e profissionais mas não nas habilidades financeiras.
Isso explica por que médicos, gerentes de banco e contadores inteligentes que tiveram ótimas notas quando estudantes terão problemas financeiros durante toda sua vida. Nossa impressionante dívida nacional se deve em boa medida a políticos e funcionários públicos muito instruídos que tomam decisões financeiras com pouco ou nenhum treinamento na área do dinheiro.
Muitas vezes penso no novo milênio e imagino o que acontecerá quando houver milhões de pessoas precisando de assistência financeira e médica. Eles se tornarão dependentes do apoio financeiro de suas famílias ou do governo. O que acontecerá quando o Medicare e a Seguridade Social ficarem sem dinheiro? Como uma nação sobreviverá se ensinar sobre dinheiro continuar sendo tarefa dos pais - cuja maioria será ou já é pobre?
Como tive dois pais a me influenciar, aprendi com ambos. Tive que refletir sobre os conselhos de cada um deles e ao fazê-lo percebi o poder e o impacto dos nossos pensamentos sobre nossa própria vida. Por exemplo, um pai costumava falar "Não dá para comprar isso". O outro proibia o uso dessas palavras. Insistia em que eu falasse: "O que posso fazer para comprar isso?"
Num caso temos uma afirmação, no outro uma pergunta. Um deixa você sem alternativa, o outro obriga você a refletir. Meu pai-que-logo-ficaria-rico explicava que ao falar automaticamente "Não dá para comprar isso" seu cérebro pára de trabalhar. Ao perguntar "O que posso fazer para comprar isso?", você põe seu cérebro trabalhando. Ele não estava dizendo que comprasse tudo o que desejasse. Ele incentivava fanaticamente que exercitasse minha mente, o computador mais poderoso do mundo. "Meu cérebro fica mais forte a cada dia porque eu o exercito. Quanto mais forte fica, mais dinheiro ganho." Ele acreditava que repetir mecanicamente "Não dá para comprar isso" era um sinal de preguiça mental.
Embora ambos os pais trabalhassem com afinco, observei que um deles tinha o hábito de pôr seu cérebro a dormir quando o assunto era dinheiro e o outro tinha o costume de exercitar seu cérebro. O resultado era que, ao longo do tempo, um dos pais ficava mais forte financeiramente, e o outro enfraquecia.
Isso não é muito diferente do que ocorre quando uma pessoa faz exercícios físicos regulares enquanto a outra senta no sofá e fica assistindo à televisão. O exercício físico adequado aumenta suas chances de ter boa saúde, e o exercício mental adequado aumenta suas chances de ficar rico. A preguiça reduz tanto a saúde quanto a riqueza.
Meus dois pais tinham atitudes mentais diferentes. Um acreditava que os ricos deviam pagar mais impostos para atender os menos afortunados. O outro dizia:
"Os impostos punem os que produzem e recompensam os que não produzem."
Um dos pais recomendava: "Estude arduamente para poder trabalhar em uma boa empresa." O outro falava: "Estude arduamente para poder comprar uma boa empresa."
Um dos pais dizia: "Não sou rico porque tenho filhos." O outro: "Tenho que ser rico por causa de vocês, meus filhos."
Um incentivava as conversas sobre dinheiro e negócios na hora do jantar. O outro proibia que se falasse do assunto durante as refeições.
Um dizia: "Em questões de dinheiro seja cuidadoso, não se arrisque." O outro:
"Aprenda a administrar o risco."
Um recomendava: "Nossa casa é nosso maior investimento e nosso maior patrimônio." O outro: "Minha casa é uma dívida e se sua casa for seu maior investimento, você terá problemas."
Ambos os pais pagavam suas contas no prazo, mas um deles pagava suas contas em primeiro lugar enquanto o outro as deixava para a última hora.
Um deles acreditava que a empresa ou o governo deveria cuidar de você e de suas necessidades. Estava sempre preocupado com aumentos salariais, planos de aposentadoria, benefícios médicos, licenças de saúde, férias e outros benefícios. Ele ficava impressionado com dois de seus tios que foram para o exército e se aposentaram com vários benefícios após vinte anos de serviço ativo. Ele adorava a idéia de assistência médica e serviços de reembolso de alimentos que os militares ofereciam a seus aposentados. Ele também se empolgava com as cátedras vitalícias do sistema universitário. A idéia de estabilidade no emprego e benefícios trabalhistas lhe parecia às vezes mais importante do que o próprio emprego. Dizia freqüentemente: "Trabalhei muito para o governo, mereço essas mordomias."
O outro pai acreditava na total auto-suficiência financeira. Ele sempre se manifestava contra a mentalidade dos "direitos" e falava que isso estava criando pessoas fracas e financeiramente necessitadas. Ele dava muita ênfase à competência financeira.
Um dos pais lutava para poupar alguns poucos dólares. O outro simplesmente criava investimentos.
Um pai me ensinou a escrever um currículo impressionante para que eu pudesse encontrar um bom emprego. O outro me ensinou a fazer sólidos planos financeiros e de negócios de modo que eu pudesse criar empregos.
Ter dois pais fortes me proporcionou o luxo de observar o impacto de diferentes formas de pensar sobre a própria vida. Observei que as pessoas moldam suas vidas por meio de seus pensamentos.
Por exemplo, meu pai pobre sempre me dizia: "Nunca vou ficar rico." E isso acabou acontecendo. Meu pai rico, por outro lado, sempre se referia a si próprio como sendo rico. Ele dizia coisas como: "Sou um homem rico e pessoas ricas não fazem isto." Mesmo que estivesse totalmente quebrado após um revés financeiro, ele continuava a se considerar um homem rico. Ele se justificava dizendo: "Há uma diferença entre ser pobre e estar quebrado. Estar quebrado é algo temporário, ser pobre é algo eterno."
Meu pai pobre dizia, "Não ligo para dinheiro" ou "O dinheiro não é importante." Meu pai rico sempre dizia, "Dinheiro é poder".
O poder de nossos pensamentos nunca poderá ser medido ou avaliado, mas desde jovem se tornou óbvio para mim a tomada de consciência de meus pensamentos e da forma como me expressava. Observei que meu pai pobre não era pobre por causa do dinheiro que ganhava, que era bastante, mas por causa de seus pensamentos e ações. Quando garoto, tendo dois pais, me tornei consciente de que deveria ser cuidadoso com os pensamentos que decidisse adotar como meus. A quem ouviria - a meu pai rico ou a meu pai pobre?
Embora ambos tivessem um enorme respeito pela educação e pelo aprendizado, eles discordavam quanto ao que era importante aprender. Um queria que eu estudasse arduamente, me formasse e conseguisse um bom emprego para trabalhar pelo dinheiro. Ele queria que eu estudasse para me tornar um profissional, um advogado ou um contador, ou que fosse a uma escola de negócios para obter um MBA. O outro me incentivava a estudar para ficar rico, para entender como funciona o dinheiro e para aprender como fazê-lo trabalhar para mim. "Não trabalho por dinheiro", costumava repetir uma e outra vez. "O dinheiro trabalha para mim”.Com nove anos de idade resolvi ouvir e aprender com meu pai rico tudo sobre dinheiro. Optei por não dar ouvidos a meu pai pobre, mesmo que fosse ele quem possuísse todos os títulos universitários.
Uma lição de Robert Frost
Robert Frost é meu poeta favorito. Embora goste de muitas de suas poesias, a
minha preferida é The Road Not Taken. Quase todos os dias recorro a suas
lições:
The road not taken
Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth;
Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same,
And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads onto way,
I doubted if I should ever come back.
I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence;
Two roads diverged in a wood, and I
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.
ROBERT FROST, 1916
O caminho não escolhido
Num bosque amarelo dois caminhos se separavam, / E lamentando não poder seguir os dois / E sendo apenas um viajante, fiquei muito tempo parado / E olhei para um deles tão distante quanto pude / Até que se perdia na mata; /
Então segui o outro, como sendo mais merecedor, / E vendo talvez melhor direito, / Porque coberto de mato e querendo uso / Embora os que por lá passaram / Os tenham realmente percorrido de igual forma, / E ambos ficaram essa manhã / Com folhas que passo nenhum pisou. / Oh, guardei o primeiro para outro dia! / Embora sabendo como um caminho leva para longe, /
Duvidasse que algum dia voltasse novamente. / Direi isto suspirando / Em algum lugar, daqui a muito e muito tempo: / Dois caminhos se separaram em um bosque e eu... / Eu escolhi o menos percorrido / E isso fez toda a diferença.
/ Robert Frost, 1916
E isso fez toda a diferença.
No correr dos anos pensei muitas vezes no poema de Robert Frost. Ao escolher não dar atenção aos conselhos e atitudes quanto a dinheiro de meu pai muito instruído, tomei uma decisão dolorosa, mas foi uma decisão que determinou o resto de minha vida.
Com a decisão de quanto a quem dar ouvidos, teve início minha educação sobre dinheiro. Meu pai rico me deu lições ao longo de um período de trinta anos, até que cheguei aos 39 anos de idade. Suas lições pararam quando ele percebeu que eu conhecia e entendia plenamente o que ele estava tentando martelar na minha cabeça, às vezes, bastante dura.
O dinheiro é uma forma de poder. Mais poderosa ainda, entretanto, é a instrução financeira. O dinheiro vem e vai, mas se você tiver sido educado quanto ao funcionamento do dinheiro, você adquire poder sobre ele e pode começar a construir riqueza. O motivo pelo qual o simples pensamento positivo não funciona é porque a maioria das pessoas foi à escola e nunca aprendeu como o dinheiro funciona, e assim passam suas vidas trabalhando pelo dinheiro.
Como comecei com apenas nove anos, as lições que meu pai rico me ensinou foram simples. E quando tudo foi dito e tudo foi feito, encontramos apenas seis lições, repetidas ao longo de trinta anos. Este livro trata dessas seis lições, expostas da maneira mais simples possível, da forma como meu pai rico as passou para mim. Estas lições não pretendem ser respostas e sim marcos.
Marcos que o ajudarão, a você e a seus filhos, a se tornar mais rico, não importa o que aconteça em um mundo de crescente mudança e incerteza.
Lição l: Os ricos não trabalham pelo dinheiro
Lição 2: Para que alfabetização financeira?
Lição 3: Cuide de seus negócios
Lição 4: A história dos impostos e o poder da sociedade anônima
Lição 5: Os ricos inventam dinheiro
Lição 6: Trabalhe para aprender - não trabalhe pelo dinheiro
CAPÍTULO DOIS
Lição l: Os ricos não trabalham pelo dinheiro
- Pai, como é que a gente fica rico?
Meu pai largou o jornal.
- Por que você quer ficar rico, filho?
- Porque a mãe do Jimmy chegou hoje num Cadela novo e eles iam passar o fim de semana na praia. Ele chamou três amiguinhos, mas o Mike e eu não fomos convidados. Eles disseram que não chamavam a gente porque éramos
"garotos pobres".
- Falaram isso mesmo? - perguntou meu pai, incrédulo.
- Falaram mesmo - respondi magoado.
Meu pai balançou a cabeça em silêncio, ajeitou os óculos e voltou para a leitura do jornal. Fiquei esperando a resposta.
Era o ano de 1956. Eu tinha nove anos. Por algum golpe de sorte, eu freqüentava a mesma escola pública onde estudavam os filhos dos ricos. A cidade vivia especialmente em função das usinas de açúcar. Os gerentes das usinas e outras pessoas influentes da cidade, como médicos, proprietários de estabelecimentos comerciais e gerentes de bancos, matriculavam seus filhos nessa escola. Terminado o primeiro grau, estes iam em geral para colégios particulares. Eu fazia parte desta escola porque minha família morava num lado da rua. Se morasse do outro lado, eu teria ido para uma escola diferente e meus colegas seriam de famílias mais parecidas com a minha. Concluído o primeiro grau, estes garotos e eu faríamos o segundo grau também em escolas públicas. Não havia colégios particulares para eles ou para mim.
Meu pai finalmente largou o jornal. Senti que estava pensando.
- Filho - começou lentamente. - Se você quiser ficar rico, você tem que aprender a ganhar dinheiro.
- E como ganho dinheiro? - perguntei.
- Use sua cabeça, filho - respondeu sorrindo. O que na verdade queria dizer:
"Isso é tudo o que vou lhe dizer" ou "Não sei a resposta, de modo que não me perturbe".
Forma-se uma parceria
Na manhã seguinte, contei para meu melhor amigo, Mike, o que meu pai tinha falado. Tenho a impressão de que Mike e eu éramos os únicos garotos pobres da escola. Também Mike estava nessa escola por um golpe de sorte. Alguém tinha traçado aleatoriamente a linha divisória dos distritos escolares e nós acabamos na escola dos garotos ricos. Não éramos pobres de verdade, mas sentíamos como se fôssemos porque os demais garotos tinham luvas de beisebol novas, bicicletas novas, tudo novo.
Mãe e pai nos davam o básico, comida, teto, roupa. Mas isso era tudo. Meu pai costumava falar: "Se você quiser alguma coisa, trabalhe para obtê-la."
Queríamos muitas coisas, mas não havia muito trabalho disponível para garotos de nove anos.
- E então como ganhamos dinheiro? - perguntou Mike.
- Não sei - respondi. - Mas você quer ser meu sócio?
Ele concordou e, naquele sábado de manhã, Mike se tornou meu primeiro sócio nos negócios. Gastamos toda a manhã imaginando formas de ganhar dinheiro. De vez em quando falávamos dos "caras legais" que estavam se divertindo na casa de praia de Jimmy. Sentíamos uma certa mágoa, mas era uma mágoa boa, pois nos inspirou a ficar pensando em como ganhar dinheiro.
Finalmente, nessa tarde, um lampejo surgiu em nossas mentes. Era uma idéia que Mike havia tirado de um livro de ciências que lera. Empolgados, demos um aperto de mão e a sociedade agora tinha um objetivo.
Durante as semanas seguintes, Mike e eu percorremos a vizinhança pedindo aos vizinhos que guardassem para nós os tubos vazios de pasta de dentes.
Intrigados, muitos adultos concordavam sorrindo. Alguns perguntavam o que estávamos fazendo. Respondíamos: "Não dá para contar, é um segredo de negócios”.Conforme as semanas passavam, mamãe ficava nervosa. Tínhamos escolhido um lugar perto da máquina de lavar roupas para estocar nossa matéria-prima.
Numa caixa de papelão, que contivera vidros de molho de tomate, acumulava-se nossa pilha de tubos de pasta de dentes usados.
Finalmente, mamãe deu uma bronca. Não agüentava mais ver aquele monte de tubos espremidos na maior confusão.
- O que vocês estão fazendo, garotos? - perguntou. - E não me venham novamente com a desculpa de que é um segredo de negócios. Dêem um jeito nesta bagunça ou jogo tudo fora.
Mike e eu argumentamos, explicamos que em breve teríamos o suficiente para começar a produção. Dissemos que estávamos esperando que alguns vizinhos acabassem de usar suas pastas para que pudéssemos recolher os tubos. Mamãe nos deu uma semana de prazo.
Antecipamos a data do início da produção. A pressão aumentava. Minha primeira sociedade já estava sendo ameaçada por uma notificação de despejo do nosso armazém, feita por minha própria mãe. Mike se encarregou de apressar o consumo das pastas, informando que os dentistas recomendavam escovação mais freqüente dos dentes. Comecei a instalar a linha de produção.
Um dia meu pai chegou em casa com um amigo para mostrar como "os garotos" operavam a linha de produção a todo vapor, perto da garagem. Por todo o lugar havia uma fina poeira branca. Numa mesa comprida se alinhavam embalagens de leite trazidas da escola e no forno japonês da família as brasas do carvão brilhavam gerando o máximo de calor.
Papai caminhava com cuidado, o carro fora estacionado próximo ao portão da rua porque a linha de produção estava na frente da porta da garagem. Quando ele e seu amigo se aproximaram, viram uma vasilha de aço em cima das brasas, e dentro dela os tubos de pasta de dentes derretiam. Naquela época não havia tubos de pasta de dentes de plástico, eles eram de chumbo. Por isso, depois que a pintura queimava, os tubos dentro da vasilha derretiam até ficarem líquidos. Com a ajuda do pegador de panela da mamãe, nós despejávamos o chumbo derretido através de um pequeno furo nas embalagens de leite, que estavam recheadas de gesso.
O pó branco do gesso que ainda não fora misturado à água estava por toda parte. Com a pressa tínhamos derrubado o saco de gesso e parecia que toda a área fora atingida por uma nevasca. As embalagens de leite vazias serviam para fazer moldes de gesso. Meu pai e seu amigo nos observavam enquanto vertíamos o chumbo derretido num pequeno buraco no topo de um cubo de gesso.
- Cuidado - disse meu pai.
Fiz que sim com a cabeça, sem olhar para cima.
Quando terminei de colocar o chumbo derretido, larguei a vasilha e sorri para meu pai.
- O que vocês estão fazendo? - perguntou com um sorriso cauteloso.
- Estamos fazendo o que você me mandou fazer. Estamos nos tornando ricos - respondi.
- Somos sócios - disse Mike sorrindo e balançando a cabeça.
- E o que há nesses moldes de gesso? - perguntou papai.
- Veja - falei. - Esta vai ser uma boa fornada.
Com um pequeno martelo, bati no selo que dividia o cubo em dois. Com cuidado, puxei a parte de cima do molde de gesso e uma moedinha de chumbo caiu.
- Minha nossa! - falou papai. - Vocês estão cunhando moedinhas de chumbo!
- Certo - falou Mike. - Estamos fazendo o que o senhor disse. Estamos fazendo* dinheiro.
O amigo de meu pai se virou e caiu na gargalhada. Meu pai sorriu e balançou a cabeça. À sua frente estavam, além do fogo e da caixa de tubos de pasta de dentes vazios, dois garotos cobertos por uma poeira branca rindo de orelha a orelha.
Meu pai pediu que largássemos tudo e nos sentássemos com ele no degrau da frente de casa. Sorrindo nos explicou carinhosamente o que significava a palavra "falsificação".
Nossos sonhos estavam desfeitos.
- Você quer dizer que isto é ilegal? - perguntou Mike com um soluço na voz.
- Deixe eles - disse o amigo do meu pai. - Eles podem estar desenvolvendo um talento natural.
Meu pai olhou para ele, furioso.
- Sim, é ilegal - falou papai calmamente. - Mas vocês demonstraram muita criatividade e idéias originais. Continuem, estou orgulhoso de vocês!
Desapontados, Mike e eu ficamos sentados uns vinte minutos antes de começarmos a arrumar a bagunça. O negócio fora encerrado no próprio dia da inauguração. Varrendo a poeira, olhei para Mike e falei:
- Acho que Jimmy e os amigos dele estavam certos. Somos pobres. Quando falei isso meu pai já estava saindo.
- Garotos - falou -, vocês só serão pobres se desistirem. O mais importante é que fizeram alguma coisa. Muitas pessoas falam e sonham em ficar ricas.
Vocês fizeram alguma coisa. Estou muito orgulhoso de vocês. Repito.
Continuem. Não desistam.
Mike e eu ficamos quietos, calados. Eram palavras simpáticas, mas nós ainda não sabíamos o que fazer.
- Então por que você não é rico, papai? - perguntei.
- Porque resolvi ser professor. Os professores não estão muito preocupados em ficar ricos. Nós gostamos de ensinar. Gostaria de poder ajudar vocês, mas na verdade não sei como ganhar dinheiro.
Em inglês usa-se a mesma expressão para significar fazer e ganhar dinheiro,
make money. (N. T.)
Mike e eu voltamos à arrumação.
- E - falou meu pai -, se vocês querem aprender como enriquecer, não perguntem para mim. Falem com seu pai, Mike.
- Meu pai? - perguntou Mike surpreso.
- Sim, seu pai - repetiu papai com um sorriso. - Seu pai e eu temos conta no mesmo banco e o gerente está encantado com seu pai. Ele me disse várias vezes que seu pai é brilhante quando se trata de ganhar dinheiro.
- Meu pai? - repetiu Mike, incrédulo. - Então por que não temos uma casa bonita, um carrão como os garotos ricos da escola?
- Um carrão e uma casa bonita não querem necessariamente dizer que você é rico ou que tem muito dinheiro - respondeu papai. - O pai do Jimmy trabalha na usina. Ele não é muito diferente de mim. Ele trabalha para uma empresa e eu trabalho para o governo. A empresa compra o carro para ele. Se a usina tiver problemas financeiros, o pai do Jimmy pode acabar sem nada. Seu pai é diferente, Mike. Ele parece estar construindo um império e desconfio que em alguns anos ele será um homem muito rico.
Ao ouvir isso, Mike e eu nos empolgamos novamente. Mais dispostos, limpamos a confusão provocada por nosso defunto negócio. Enquanto limpávamos, fazíamos planos sobre quando e onde falar com o pai de Mike. O problema é que o pai de Mike trabalhava muito e, às vezes, chegava muito tarde em casa. Ele era dono de armazéns, de uma empresa de construção, de uma cadeia de lojas e de três restaurantes. Eram os restaurantes que o faziam voltar para casa tarde. Acabada a limpeza, Mike se despediu. Ele iria falar com seu pai à noite e perguntar se este queria nos ensinar a ficar ricos. Mike prometeu me ligar assim que tivesse uma resposta, mesmo que fosse tarde.
Às 20:30 tocou o telefone.
- OK - falei. - Sábado que vem - e desliguei. O pai de Mike concordara em conversar conosco.
Às 7:30 de sábado, peguei o ônibus para o lado pobre da cidade.
Começam as lições
"Vou pagar a vocês 10 centavos por hora".
Mesmo pêlos padrões de remuneração vigentes em 1956, era pouco. Michael e eu encontramos seu pai às 8:00 daquela manhã. Ele estava ocupado e trabalhando há mais de uma hora. Seu supervisor de construções Já estava saindo na caminhonete quando entrei naquele lar simples, pequeno, arrumado.
Mike me esperava na porta.
- Papai está no telefone, e ele falou para esperar na varanda dos fundos - disse
Mike ao abrir a porta.
O antigo assoalho de madeira chiou quando passei pela soleira da velha casa.
Do lado de fora havia um capacho simples escondendo os muitos anos de uso e os incontáveis passos que suportara. Apesar de limpo, precisava ser substituído.
Quando entrei na sala estreita senti claustrofobia. O cômodo estava mobiliado com móveis que hoje seriam objeto de colecionadores. Duas mulheres estavam sentadas no sofá, eram um pouco mais velhas do que a minha mãe. Em frente às mulheres estava um homem em trajes de trabalhador. Ele vestia calça e camisa caquis, bem passados, mas não engomados, e calçava botas de trabalho bem engraxadas. Deveria ser uns dez anos mais velho que papai; diria que tinha uns 45 anos. Eles sorriram quando Mike e eu passamos em direção à cozinha, de onde se saía para um pátio nos fundos. Timidamente devolvi o sorriso.
- Quem são eles? - perguntei.
- Ah, eles trabalham para papai. O mais velho dirige seus armazéns e as mulheres são gerentes dos restaurantes. E você já viu o supervisor das construções, que está trabalhando em um projeto rodoviário, a uns 80 quilômetros daqui. O outro supervisor, que cuida da construção das casas, saiu antes de você chegar.
- Isso acontece o tempo todo? - perguntei.
- Nem sempre, mas muitas vezes - disse Mike sorrindo enquanto puxava uma cadeira para sentar perto de mim.
- Perguntei ao papai se ele vai nos ensinar a ganhar dinheiro - disse Mike.
- E o que ele respondeu? - perguntei com cautelosa curiosidade.
- Bom primeiro me encarou com uma expressão engraçada, e então falou que iria nos fazer uma oferta.
- Oh - respondi balançado a cadeira para trás em direção à parede; a cadeira em que sentava se sustentava nos pés de trás. Mike fazia o mesmo.
- Você sabe o que ele vai nos oferecer? - perguntei.
- Não, mas a gente já vai descobrir.
De repente o pai de Mike passou pela porta de tela e pisou no alpendre. Mike e eu pulamos, ficando em pé não por respeito mas pelo susto que levamos.
- Prontos garotos? - perguntou o pai de Mike, puxando uma cadeira para sentar perto de nós.
Fizemos que sim com a cabeça e aproximamos as cadeiras. Ele era um homem grande, com cerca de 1,80 metro e 100 quilos. Meu pai era mais alto, pesava mais ou menos o mesmo e era cinco anos mais velho que o pai de Mike. Eles eram de certo modo parecidos, embora de origens étnicas diferentes. Talvez tivessem energias semelhantes.
- Mike falou que você quer aprender a ganhar dinheiro? E isso mesmo,
Robert?
Rapidamente assenti com a cabeça, não sem uma pequena sensação de intimidação. Senti muito poder por trás de suas palavras e de seu sorriso.
- Muito bem, eis a minha oferta. Vou ensinar a vocês, mas não como em uma sala de aula. Vocês trabalham para mim, eu ensino a vocês. Vocês não trabalham para mim, eu não ensino a vocês. Posso ensinar mais rápido se trabalharem, e não fico perdendo tempo se só ficarem sentados escutando, como fazem na escola. Esta é minha oferta. E pegar ou largar.
- Posso fazer uma pergunta... antes? - falei.
- Não. É pegar ou largar. Tenho trabalho demais para perder tempo. De qualquer modo, se você não puder se decidir logo, não vai aprender nunca a ganhar dinheiro. As oportunidades vêm e vão. Ser capaz de tomar decisões rápidas é uma habilidade importante. Você tem uma oportunidade que pediu.
As aulas começam em dez segundos - respondeu o pai de Mike com um sorriso incentivador.
- Topo - respondi.
- Topo - respondeu Mike.
- Bom - falou o pai de Mike -, a senhora Martin vai chegar daqui a dez minutos. Depois que eu conversar com ela, vocês a acompanham até minha lojinha e já podem começar. Vou lhes pagar 10 centavos por hora e vocês terão que trabalhar três horas todo sábado.
- Mas hoje tenho jogo de beisebol - falei.
O pai de Mike abaixou a voz e falou com seriedade.
- E pegar ou largar - disse.
- Topo - respondi, decidindo trabalhar em lugar de jogar beisebol.
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