quinta-feira, 27 de novembro de 2008

1º AXIOMA MENOR

Só aposte o que valer a pena.

Um antigo clichê diz que “só se deve apostar o que se possa perder”.
Ouve-se isto em Las Vegas, em Wall Street e onde quer que se arrisque dinheiro em busca demais dinheiro,
Lê-se a mesma coisa em livros que oferecem conselhos sobre investimentos e administração financeira do tipo convencional. É tão repetido, em tantos lugares, que acabou adquirindo uma aura de verdade, exatamente como os clichês psicanalíticos sobre manter a calma.
Antes, porém, de incluí-lo no seu instrumental especulativo, é melhor estudá-lo com cuidado. Como a maioria das pessoas o interpretam, é uma fórmula que praticamente garante maus resultados.
O que será uma soma “que se possa perder”? A maioria talvez a definisse como “uma soma que, se eu perder, não vai doer”. Ou, “uma soma que, se eu perder, não representará diferença significativa no meu bem-estar financeiro”.
Por outras palavras, 1 ou 2 dólares, ou 20 dólares, ou algumas centenas. Essas são as quantias que a maior parte da classe média consideraria “perdível”. Em conseqüência, é com esse tipo de dinheiro que a maioria da classe média especula, se é que o faz. Mas, veja bem: se apostar 100 dólares e dobrar o dinheiro, você continua pobre. A única maneira de derrotar o sistema é apostando quantias que valham a pena. Claro, isto não significa que deve jogar com somas que, perdidas, levariam você à bancarrota. Afinal de contas, há o aluguel a pagar, as crianças precisam comer. Mas significa, isto sim, que tem de superar o medo de se machucar.
Se a quantia for tão pequena que a sua perda não represente diferença significativa, o mais provável é que tampouco trará ganhos significativos. A única maneira de ganhar muito apostando pouco é correr atrás de uma possibilidade em milhões. Você pode, por exemplo, comprar um bilhete de loteria por 1 dólar e ganhar 1 milhão. É gostoso sonhar com isto, mas, de tão grandes, as probabilidades contra são de deprimir. No curso normal de uma jogada especulativa, você tem que começar disposto a se machucar, nem que seja um pouquinho. Talvez prefira começar modestamente e, à medida que for ganhando experiência e confiança na solidez da sua psique, ir aumentando a dosagem de preocupação. Cada especulador acaba encontrando o seu próprio nível de tolerância a riscos. Alguns, como Jesse Livermore, apostam com tal ousadia que são capazes de quebrar com espantosa rapidez - o que, conforme já vimos, com Jesse ocorreu quatro vezes. O seu nível de risco era tão elevado que assustava os outros especuladores, inclusive os mais calejados. Frank Henry, cujo nível de risco era mais baixo, costumava analisar as jogadas de Jesse e chegar em casa balançando a cabeça, cheia de espanto. - O homem é louco! - dizia.
Certa vez, ele calculou que, se todas as suas especulações lhe explodissem na cara de uma vez, num único e imenso cataclísma, quando a poeira assentasse ele estaria valendo mais ou menos a metade do que valia ao começar.
Perderia 50 %. De outro ponto de vista, preservaria 50 %. Era esse o nível de tolerância à preocupação que ele escolhera.
Outro que acreditava em apostas que valessem a pena era J. Paul Getty, um dos reis do petróleo. A sua história é instrutiva. A maioria das pessoas parece pensar que ele herdou a sua imensa fortuna do pai, ou que, pelo menos, herdou o começo dela. A verdade é bem outra. J. Paul Getty fez fortuna sozinho, começando como um especulador comum, de classe média, como você ou eu.
Ficava irritadíssimo quando diziam que tinha recebido a vida numa salva de prata.
- De onde vem essa idéia? - certa vez ele gritou para mim, exasperado. (Havíamos nos encontrado na sede da Playboy. Ele era acionista da empresa, durante alguns anos foi editor de economia da revista e nela publicou 34 artigos. Era a sua maneira de relaxar, quando não estava ganhando rios de dinheiro.) Finalmente, Getty concluiu que era a imensidão da sua fortuna que fazia quase todo mundo pensar precipitada e erradamente. As pessoas, evidentemente, achavam difícil acreditar que um homem sozinho pudesse começar com uma soma modesta, padrão classe média, e transformá-la em 1 bilhão de dólares. Pois foi exatamente o que J. Paul Getty fez. A única vantagem que teve sobre você ou sobre mim foi que começou no início do século, quando tudo custava mais barato e não existia imposto de renda. Além de alguns modestos empréstimos, não levou um tostão do pai, frio e intimidante. E os empréstimos foram cobrados nos prazos estabelecidos, não valendo desculpas de qualquer natureza. A coisa mais valiosa que Getty recebeu do pai foi instrução, não dinheiro.
George F. Getty era um advogado de Minneapolis, especulador autodidata, que acertou na mosca na corrida do petróleo em Oklahoma, no começo do século, e criou regras que se parecem um pouco com alguns dos Axiomas de Zurique. Era um homem sério, de inabaláveis convicções plantadas na Ética do Trabalho. Como J.
Paul escreveria depois, na Playboy: “George F. não admitia a idéia de que o filho de um homem rico devesse ser mimado, estragado, ou que recebesse dinheiro de presente quando já tivesse idade bastante para ganhar sua própria vida.” Assim, J. Paul teve de sair em busca de sua própria fortuna.
No começo, achou que queria ser diplomata ou escritor, mas a paixão do pai pela especulação estava no seu sangue. Foi atraído para Oklahoma, para o petróleo. Trabalhando nos campos, juntou algumas centenas de dólares. À medida que cresciam suas economias, crescia também a sua vontade de arriscá-las. Foi então que ele demonstrou compreender o princípio básico do 1º Axioma Menor. Aprendera-o com o pai:

Só aposte o que valer a pena.
Com 50 dólares, ou até menos, poderia ter se associado a algum negócio. Não faltavam dessas oportunidades.
Os campos de petróleo andavam cheios de independentes e de grupos de especuladores que precisavam de dinheiro para continuar perfurando poços. Por uns poucos dólares, vendiam parcelas mínimas das suas operações a qualquer um. Mas Getty sabia que com essas participações minúsculas não ficaria rico nunca.
Saiu atrás de coisa maior. Perto da Vila de Stone Bluff, encontrou um especulador oferecendo 50% de um direito de prospecção sobre uma área que Getty achou promissora. Resolveu arriscar. Ninguém ofereceu mais, e J. Paul Getty, assim, acabava de ingressar oficialmente no ramo do petróleo.
Em janeiro de 1916, o primeiro poço-teste da área mostrou-se um sucesso: mais de 700 barris/dia. Pouco depois, Getty vendeu a sua parte por 12.000 dólares, e foi desse modo que a sua fabulosa fortuna começou.
- Claro que tive sorte - diria ele, anos mais tarde, recordando a sua primeira jogada. - Podia ter perdido. Mas, mesmo que isso houvesse acontecido, não teria modificado a minha convicção de que aquele era o risco a correr. Assumindo tal risco (e não era pequeno, devo admitir), eu estava me dando a possibilidade de alcançar algo interessante. Possibilidade veja bem, esperança. Se houvesse recusado a oportunidade, não teria tido a esperança.
Ele ainda acrescentou que, se tivesse perdido, não teria sido o fim do seu mundo. Simplesmente voltaria a cavar algum dinheiro, e tentaria de novo.
- Me parecia, então, que eu tinha muito mais a ganhar do que a perder - recordaria Getty. - Se ganhasse, seriam várias maravilhas juntas. Perdendo, doeria, mas não lá essas coisas. O caminho a tomar parecia claro. O que você teria feito?

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